Em
Volos, no litoral da Grécia, população introduz sistema parecido
com o escambo.
Há
alguns meses, uma moeda alternativa foi introduzida na cidade
portuária de Volos, na Grécia. A iniciativa resultou na criação
de uma rede com mais de 800 integrantes, em uma comunidade que não
estava mais conseguindo manter seu poder aquisitivo com bens cobrados
em euros, devido à grave crise econômica que atinge o país.
O
local onde o sistema funciona melhor é o mercado central da cidade.
Em uma das barraquinhas de artesanato, a moradora Hara Soldatou
compra um conjunto de velas decoradas. A transação é feita sem
nenhuma moeda ou nota de euro.
"Eles
me custaram apenas 24 TEM, que eu juntei ao dar aulas de ioga",
diz ela.
O
TEM é a moeda alternativa de Volos. Com ela, é possível comprar
praticamente qualquer coisa no mercado, como joias, comida, roupas e
equipamentos elétricos. Na prática, a moeda é baseada num sistema
de trocas, onde pessoas que têm bens ou serviços a oferecer podem
acumular crédito para usar em determinadas lojas e mercados.
A
paridade do TEM é de quase um para um com o euro. Mas alguns
comerciantes aceitam trocar seus bens diretamente por outros bens ou
serviços, como no antigo sistema de escambo, anterior ao uso de
moedas.
"Eu
aceito receber aulas de idiomas ou de computação", diz Stavros
Ntentos, que vende roupa íntima em uma barraca no mercado. "É
uma ótima ideia, porque precisamos fazer as pessoas entenderem que
todos nós podemos comprar ou vender alguma coisa. Nós não
precisamos de euros".
Moedas
paralelas
O
sistema é organizado pela internet. Cada integrante tem uma conta
TEM, onde são depositados os créditos de transações virtuais. O
fundador do sistema, Yiannis Grigoriou, passa os dias em frente ao
computador no mercado, supervisionando todas as transações.
"O
sistema é vantajoso porque as pessoas encontram esperança aqui.
Elas descobrem coisas para dar e receber". Grigoriou é modesto
ao ser perguntado se o TEM pode se tornar a moeda dominante em Volos.
"Não
sei, nós teremos que ver isso aí".
Nos
últimos meses, a Grécia tem discutido cada vez mais a possibilidade
de abandonar o euro, devido à grave crise econômica. Muitos em
Volos veem o TEM como uma alternativa à moeda europeia. Um feirante
chegou a dizer que "o euro é uma coisa do passado". Mas
para a maioria, o sistema é mais uma espécie de complemento à
moeda europeia.
O
prefeito de Volos, Panos Skotiniotis, afirma que o TEM não ameaça
de forma alguma a hegemonia do euro. Ele defende o projeto e diz que
as duas moedas podem existir simultaneamente. "Nós apoiamos a
iniciativa porque é uma boa forma de sairmos de uma profunda crise
econômica e social", diz o prefeito.
"É
uma iniciativa que complementa o euro, mas não o substitui. A Grécia
está na zona do euro, e nós queremos continuar lá".
Um
novo começo
A
rede monetária alternativa está se espalhando pela comunidade, com
cada vez mais comerciantes participando do projeto.
Em
um cooperativa de produtores de flores, que conta apenas com
funcionários com deficiências físicas, os trabalhadores usam TEM
para vender sua produção em troca de serviços que eles não
conseguiriam adquirir de outras formas.
"Nós
podemos comprar pão ou carne ao trocar nossos produtos, e nossas
meninas conseguem ir ao cabeleireiro", diz Peri Mantzafleri, que
administra a cooperativa.
Alguns
dos clientes, interessados em comprar flores, podem adquirir os
produtos sem dinheiro, apenas prestando pequenos serviços, como
cortar grama e arrumar cercas.
"Eu
cresci em um vilarejo, e é assim que as coisas funcionavam
antigamente, antes de começarmos a nos envolver com dinheiro. Isso é
uma chance para começarmos novamente", diz o administrador da
cooperativa.
As
crianças também se beneficiam do sistema. Os pais podem matricular
seus filhos em oficinas que misturam jogos, música e desenho. Esse
tipo de atividade tinha um preço proibitivo antigamente, mas agora
pode ser pago graças ao TEM.
O
coordenador das oficinas, Charalampos Bardas, disse que a moeda local
é de grande valor para a comunidade. "É uma grande solução
contra a crise. A vida continua, nós temos que continuar lutando",
diz Bardas. "Nós temos que ver tudo de forma diferente agora.
Não é o fim do mundo se estamos em crise. Nós queremos nos dar bem
e seguir adiante".
Fonte: BBC / G1